sexta-feira, 4 de maio de 2012

Senhor, restaura em mim o tempo da Tua graça.

A nossa Força Vem do Senhor Jesus!



Boa noite caros amigos e irmãos.
Hoje o dia está corrido, quase não tive tempo de sentar-me aqui para fazer a minha reflexão do dia. É impressionante como o tempo tem o poder de nos engolir. Percebo isso a cada dia que se passa. É possível mesmo que o tempo tenha diminuído ou somos nós mesmos que acrescentamos a ele sempre coisas e mais coisas? 
As pessoas têm corrido de um lado para o outro. De um canto a outro. E no final do dia percebem que mais correram do que viveram. Erroneamente, algumas pessoas amigas que vivem na cidade de São Paulo, cidade esta que recebeu popularmente o título de 'Cidade que não dorme', sempre se entusiasmam com a vida no interior dizendo que aqui todas as pessoas são tranqüilas, pacatas, vagarosas, que ninguém corre etc... Mas se enganam, a obsessão pela correria e por dizer aos outros, 'tenho uma agenda a ser cumprida hoje', também já chegou por aqui, no interior. Aqui, todos correm! A cidade se desperta às 4:00 da manhã quando o povo, ainda tentando se restabelecer da dura lida do dia passado, já se apronta para o novo dia que desponta. Os que trabalham nas fazendas, preparam suas marmitas; os que são padeiros, aquecem os fornos para o assado; os que transportam as pessoas aos seus destinos, fazem pela madrugada, ranger os sons dos motores de seus veículos e assim a vida acontece. 
Aqui, em nossa pequenina Restinga, quando vivemos o tempo quaresmal, para unir as nossas vidas ao Santo Sacrifício do Cristo, fazemos a chamada procissão de penitência. O sacerdote se levanta às 3:45 da madrugada, abre a Igreja às 4:00 e espera o povo que só chega quando, na torre da Igreja Matriz, soa o primeiro badalo dos sinos paroquiais. É belo ouvir ressoar entre a neblina o tinir dos sinos. Na verdade, mais do que fazer ecoar seus sons, os sinos despertam a cidade. No silêncio emudecedor, de animais que se aglomeram nos currais e estábulos, de corpos cansados que ainda descansam, de corações mergulhados em sonhos e pesadelos, de almas repousantes e esperançosas de um novo dia que começa, eis que soa, chamando-nos para a vida, os sinos da Igreja. Pena que nossas Igrejas tenham perdido este hábito do sino! Mas aqui, graças a Deus, ainda os temos. Dois, dois belos sinos fundidos no reinado de Sua Santidade o Papa Paulo VI. E assim, vagarosamente, o poder do sino se manifesta. O povo se reúne, o silêncio se rompe, a cidade acorda paulatinamente e o povo, na Igreja, entoa magnificamente o "Maria de Nazaré...". Meu Deus, que beleza! Através de um canto tão simples, popular e conhecido, que brota da alma e dos corações desejosos dos fiéis de se unirem à Virgem Santíssima, exprime-se um profundo desejo de Deus. O canto não perde em nada, para a Nona Sinfonia de Beethoven. Não estou exagerando, venham um dia a Restinga para verem com que retumbância ele é entoado. Enfim, se de um lado os sinos despertam os corpos para o tempo da fé, o canto desperta as almas para mais uma experiência de fé em Deus.
Voltemos, pois, falávamos do tempo. Na ciência teológica aprendemos sobre dois tempos distintos. A um chamamos 'cronos', que é o tempo cronológico, aquele que o tic-tac dos nossos relógios não cessa de repetir. E quando nós permitimos que este tempo nos engula, nada mais restará em nós para Deus. Até porque, neste tempo, até o momento dedicado a Deus seria desperdiçado.  Por isso a correria, por isso as máquinas que não descansam na produção, as mãos que não cessam o trabalho, os olhos estatelados que não repousam, enfim, a agitação comum aos nossos tempos. Hoje, infelizmente, a maioria de nós nos perdemos no labirinto deste tempo. Labirinto sim, porque nele nos perdemos, nos consumimos e deixamos de viver e quase nunca encontramos a saída. Labirinto, porque procuramos incansavelmente pelo tempo e pela sua prolongação mas ele nos foge como a água que tentamos aprisionar sem sucesso entre os dedos de nossas mãos.
Em contrapartida, existe também um outro tempo, ou, uma outra forma de encaramos o tempo, e ele se chama 'kairós', isto é, o tempo da graça de Deus, o tempo de Deus, o momento oportuno de Deus. Nesta outra expressão do tempo, não existe tic-tac reverberantes, não há um tempo que se perca até porque, nele, todos os instantes são aproveitados como pequenas gotas d'água. Sim, pequenas gotas d'água! Quem já passou por um instante sequer com sede e sedento sabe dar valor a uma única gotinha de água. E assim é o kairós de Deus. Cada segundo, minuto, horas, dias, meses, anos, frações diversas de tempo, é tempo de estar com Deus e de estar em Deus. 
Quando contemplamos Moisés no monte e na presença de Deus, vemos nele um homem que se distanciava de todas as dificuldade do êxodo, para que naqueles instantes, pudesse ser todo de Deus e Deus pudesse ser todo dele. Quando ainda olhamos para Abraão, na subida íngreme até o monte Moriá, carregando seu filho Isaac para que pudesse ser sacrificado, ali também, aquele instante, era o tempo adequado para que ele pudesse entrar no coração de Deus e entender seus preceitos e seus desígnios a cerca de sua descendência numerosa. Com Jesus não é diferente, pois Ele sempre 'gastava' seu tempo ora com as pessoas, - curas, anúncios, libertações -, e ora com Deus. Na verdade, estava mais intimamente ligado a Deus pois sabia que nada poderia dar de Si aos outros se não estivesse cheio de Deus, cheio da graça de Deus.
Jesus deixa-nos a lição, estar em Deus não é tempo perdido. É nele que acertamos o tempo de nossas vidas. Se nossos relógios estão adiantados, eis que Deus os reorganiza. Se nossos relógios estão atrasados, Deus os atualiza e assim, nos refazemos em nossos sentimentos de fé, amor  e esperança. 
Aproveitemos o tempo de hoje em nossas vidas, saibamos dar valor às pequenas coisas e à presença das pessoas. Se existe algo que nos faz valer a pena em estar numa cidade menor este algo é justamente o fato de podermos nela, ainda olhar para o universo e contemplar tudo aquilo que é obra das mãos de Deus, e dizer, "tudo isso é muito bom". Por aqui, ainda é possível ver as estrelas na noite, sentir o cheiro da chuva que cai dos céus irrigando a terra, apreciar o aroma da grama ao ser cortada, ouvir o galo cantar e os pássaros anunciando um novo dia e um novo recomeço, e mais, é possível ver o pôr-do-sol. Como é poderosa esta contemplação. Nela vejo o Cristo resplandecente que faz iluminar sobre nós todo Seu amor e Sua graça, vejo o Sol nascente e poente que nos veio visitar e ao contemplar, mais um dia que se finda, não trago a sensação de estafa ou de tédio, mas a sensação de uma profunda certeza que sai do meu coração e que me faz recordar os discípulos de Emaús e sua exclamação: "Fica conosco, Senhor, é tarde e a noite já vem! E, no sol que se esconde, contemplo o Cristo que é o Sol sem ocaso e que silenciosamente me responde: Fique em paz! Deste modo, posso repousar tranqüilamente em Deus com a sensação de que, naquele dia, dei tudo de mim, o melhor de mim e que por mais um dia fui um vencedor.
Deus abençoe.

Pe. Michel Rosa

Um comentário:

  1. que maravilhoso , essas suas palavras ,me faz refletir sobre minha vida cristã. como se torna iluminado meu dia e como minha vida se torna um poema,quando de verdade eu provo do AMOR de DEUS .apesar da vida corrida que eu levou , quando de verdade eu me deixo ser conduzido por DEUS ,ainda correndo eu consigo vêr em tudo os sinais de AMOR que DEUS me coloca, no sol , na lua , nas estrelas , nos passaros , na chuva ,no barulho de uma caminhada , de um motor , no barulho do sino da igreja como o senhor mesmo disse, na armonia que de verdade se torna todas as coisas barulhentas que ouvimos todos os dias . isso me faz entender uma unica coisa, se eu me entregar a esse AMOR DE VIDA que é o AMOR DE DEUS. todos esses barulhos que eu ouço todo dia se torna uma trilha sonorá na historia que DEUS tem realizado em minha vida !!!

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